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A Ponte do Autoamor: Por que Saber Quem Você É Não Basta para Mudar Quem Você É

Muitos de nós vivemos sob uma ilusão perigosa: a crença de que o simples ato de descobrir nossas falhas é suficiente para corrigi-las. Acreditamos que o insight mental é a cura. No entanto, existe um abismo vital que frequentemente ignoramos na jornada do desenvolvimento humano: a imensa distância entre o autoconhecimento e a autotransformação.


Saber que existe uma "bagunça" dentro da nossa casa mental é apenas o primeiro passo (o autoconhecimento). Arrumar essa bagunça (a autotransformação) exige algo muito mais trabalhoso: mudança de hábitos, vontade firme e, acima de tudo, uma ferramenta que muitas vezes esquecemos: o autoamor pragmático.


O Conflito: O "Eu Real" vs. O "Eu Ideal"

O maior sofrimento no processo de autoconhecimento não vem da falha em si, mas da comparação cruel que fazemos dentro de nós.


De um lado está o Eu Ideal: a imagem de perfeição que nosso ego construiu. É aquela voz interna que busca incessantemente por grandeza, status e validação, operando em uma lógica de orgulho e importância pessoal. É a parte de nós que acredita que já deveria estar pronta e acabada.


Do outro lado está o Eu Real: a realidade da nossa vida interior que descobrimos ao nos analisarmos — com todas as suas sombras, imperfeições e limitações humanas.

A "Dor do Martírio" nasce exatamente nesse choque. Quando o Eu Ideal olha para o Eu Real e vê que ele não é perfeito, ele não o ajuda; ele o pune. O martírio é a recusa em aceitar a realidade, gerando uma dor adicional e inútil, fruto da falta de habilidade em gerenciar essa frustração emocional.


Começamos a desacreditar de nós mesmos justamente quando descobrimos a verdade. É uma "amnésia" perigosa: ficamos tão obcecados com o ideal inatingível que esquecemos nossa capacidade real de evoluir passo a passo.


Construindo a Ponte do Autoamor

Para que a renovação se concretize, precisamos parar essa guerra civil interna. A travessia do "Saber" para o "Ser" só é possível através da Ponte do Autoamor.


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O autoamor é o tratado de paz entre o Real e o Ideal. Trata-se de uma postura de inteligência emocional:

  1. Aceitação do Real: Entender o que precisa ser mudado, mas acolher o ser humano falho que você é hoje com imenso amor e paciência.

  2. Fim da Autossabotagem: Perceber que se martirizar por não ser o "Ideal" apenas drena a energia necessária para transformar o "Real".

  3. Acolhimento Estratégico: Quem se odeia não tem energia para se transformar; apenas se destrói. O autoamor fornece o combustível para a mudança.


Resgatando a Essência: O Arquétipo da Criança e a Mente de Principiante

Para vencer a tirania do Ideal (o Ego Adulto que quer ser o "maior"), recorremos à sabedoria universal e ao conceito Zen de Shoshin (Mente de Principiante).


A psicologia utiliza a figura da criança para ilustrar um estado de consciência onde o centro da vida não é o orgulho, mas o desprendimento e a pureza. Enquanto o adulto egocêntrico se perde em competições de grandeza e "emoções de importância pessoal", a essência infantil apenas vive e experimenta.


  • O Idealista (Ego Adulto): "Eu deveria ser perfeito. Se errei, sou uma fraude." (Gera Martírio).

  • O Principiante (Essência): "Eu sou um aprendiz. O erro faz parte do meu currículo real. Vou tentar de novo." (Gera Crescimento).


"Lembrar da sua Essência" é abandonar a ilusão de que você precisa provar sua grandeza o tempo todo e abraçar a liberdade de ser alguém em constante aprendizado, sem as complexidades do orgulho ferido.


Um Plano Diário de Reencontro

A transformação real não acontece nos grandes saltos de idealismo, mas na rotina silenciosa da realidade. Se queremos deixar de ser reféns das nossas expectativas irrealistas, precisamos de um plano de amor diário.


Isso significa presentear-se, todos os dias, com a permissão de ser humano. Significa olhar para o Eu Real não com o desprezo de quem falhou, mas com o carinho de quem está aprendendo.

A verdadeira cura acontece quando o Eu Ideal desce do pedestal para abraçar e cuidar do Eu Real, permitindo que ele cresça no seu próprio tempo.

2 comentários


Gelson Vieira
Gelson Vieira
há 6 dias

Excelente texto!! Ótimo, Reildo!!

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Reildo Souza
Reildo Souza
há 6 dias
Respondendo a

Obrigado Querido.

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